A
NECESSÁRIA PRESENÇA DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO EXISTENCIAL.
A educação é fundamental no processo
evolutivo humano, justificando, portanto, o indispensável levantamento dos
aspectos formativos que devem nortear a vida das pessoas durante a nossa
existência. Nossa observação começa e evolui a partir da vivência e contato com
pessoas do nosso convívio, indagando-se como poderia ser melhor, mais profunda
e abrangente algumas concepções filosóficas marcantes ao longo da história.
Devemos sempre buscar na
etimologia das palavras o real sentido das mesmas, nos mais variados momentos
do nosso estar no mundo.
A palavra “educar” vem de “educare”, que significa instruir,
criar. A palavra é composta por “ex” (“fora”) e “ducere”, cujo
significado é guiar, conduzir, liderar. Como se nota, educar trazia a ideia de
“conduzir para fora”. Outras fontes dizem “extrair para dentro”.
Portanto, podemos interpretar esse conceito como a mais sábia forma de se “preparar
para o mundo”.
O Conceito é amplo e deve ser aplicado em sua dimensão epistemológica.
Podemos dizer que desde o planejamento de um filho, desde a vida intrauterina,
esses conceitos já devem estar presentes no cuidado da mãe, no cuidado do pai,
do companheiro ou companheira, cuidado esse, que deve permanecer ao longo
da nossa existência.
É neste sentido que o papel e dever do estado deve estar presente no
acolhimento, no acompanhamento, na promoção de investimentos prioritários que
essa demanda requer.
Para aprofundar essa temática, se faz necessário especificar o significado do
espaço físico em que se opera formalmente o aprendizado da criança. A palavra “escola”
se origina do grego, “skolé”, espaço vital em que se praticava o ócio, o
lazer criativo, a discussão livre, o aprendizado como experiência intensa,
livre de pressões externas do “mercado” ou de conduta moral repressora.
Esses conceitos merecem atenção, pois, no dia a dia
são confrontados com os modelos de escolas que conhecemos, trabalhamos,
criticamos e por vezes reproduzimos e até naturalizamos os vários modelos
escolares há séculos existentes.
Neste sentido, precisamos rever os conceitos,
uma vez que os seres humanos devem estar vinculados à educação e aos espaços
físicos existentes em diferentes níveis de aprendizado: Municipal, Estadual e
Federal.
Nossa concepção é que já no início da vida das crianças os responsáveis devem
colocar seus filhos nas escolas infantis, com a preocupação do despertar
afetivo, emocional e cognitivo, diferentemente dos depósitos de
crianças parcialmente atendidas nas creches, maternais, ou “espaços
improvisados” e alheios à preocupação educacional. Assim, deve ser durante toda
a vida, fundamentalmente desde a idade infantil, enquanto criança,
adolescente, jovens e adultos
preparando-se para a vida social no trabalho, bem como, durante toda sabedoria
plena, equivocadamente chamada de velhice.
Durante o "envelhecimento" deve existir as escolas sapienciais,
diferentemente dos atuais “depósitos de velhos (as)" em asilos ou
abandonados (as) à sua própria sorte como sucatas humanas descartáveis. As
escolas sapienciais devem possuir espaços apropriados para ensinar e aprender,
cuidar, acolher e aprimorar a sabedoria relacional durante o processo de
existência, transformando-a em mais sabedoria, dando sentido à vida em suas
várias manifestações.
Começar a vida com vigor físico, ter saúde,
viver plenamente dentro das possibilidades adquiridas, assim como no declínio
físico e mental, na doença, na decrepitude e até na finitude humana, tudo deve
fazer parte da escola da vida, do necessário aprendizado que o estado tem
obrigação de assegurar a todos e todas por exigência da existência relacional
dos seres humanos no planeta.
É dever do Estado a permanente preservação da
vida, da história e da memória das pessoas ao longo de sua contribuição e
produção existencial, diferentemente da história e memória hoje cultuada, pois,
“fazem parte da história” os detentores do capital, os próceres da burguesia,
enquanto os demais estão condenados a não vida, ao ostracismo e a inexistência
histórica.
Entendemos que mesmo no estado
capitalista devemos defender essas justas bandeiras, entretanto, só serão
plenamente asseguradas com a implantação definitiva de uma sociedade comunista
sem oprimidos nem opressores.
O sentido que damos à
vida depende, em grande parte, do sentido que damos à morte, como expressa em
profundidade o teólogo, educador e escritor, Leonardo Boff: “Se a morte é
o fim de tudo, então de pouco valem as tantas canseiras e os pesados
sacrifícios a que nos submetemos. Mas se a morte é o fim no sentido de objetivo
alcançado, então tudo valeu a pena. Morrer é viver mais e melhor. Por isso tem
lógica a resposta que Sartre, no final da vida, deu a um jornalista que lhe
perguntou se continuava ainda ateu. O filósofo respondeu: ‘Continuo, mas com a
esperança esperante de que Deus exista, do contrário a vida não tem sentido’ ”.
Instigamos o debate sobre essa temática,
pois, via de regra, a mesma não é abordada nos círculos dos debates das
esquerdas, assim como não é debatido nos vários segmentos da sociedade e dos
movimentos sociais organizados.
Enfrentar, debater e assumir compromisso com
esses princípios é dever
de todos que vivem, lutam e até morrem em defesa de um mundo
liberto da opressão do Capital.
A escola da vida e a vida na escola são
intrínsecas, constituindo, portanto uma nova e permanente educação sapiencial.
Nesse sentido, defendemos o acesso à
escola infantil, bem como a todo processo de escolaridade ao longo da vida, e,
na idade da sabedoria plena, defendemos a existência das escolas sapienciais.
Viver,
respeitar e estudar sempre é preciso!
Aldo
Santos - Coordenador da apeoesp sbc, Presidente da Associação dos Professores
de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo, Presidente da Associação dos
Professores de Filosofia e Filósofos do Brasil, militante do Psol.
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