ORGANIZAR OS ESTUDANTES É URGENTE.
A primeira tarefa do estudante ao chegar a uma unidade
escolar é procurar informações sobre os seus direitos e
deveres. Via-de-regra, para os agentes obedientes do governo, os
alunos só tem deveres e quando falam em direitos é um direito vigiado,
delimitado e controlado. Às vezes até falam em aluno crítico, porém, quando
este começa a questionar para além do conteúdo ensinado, passa a ser um
incômodo para os professores e gestores, pois para eles, aluno crítico é sinônimo
de aluno dócil, domado e servil.
Quando os alunos perguntam sobre as notas, sobre o
funcionamento da biblioteca, da videoteca, sobre a qualidade da merenda,
sobre o preço abusivo da cantina, das salas entupidas de alunos ,da
sala de internet e como os alunos devem fazer para usá-la, ele começa a
incomodar a ordem estabelecida. É para incomodar mesmo.
Para muitos a base e o método educacional é a educação
bancária, como bem definiu o educador Paulo Freire. Em nosso cotidiano e
no ambiente escolar os conceitos filosóficos positivistas de Auguste Comte
estão muito presentes, uma vez que para os detentores do poder, as
escolas precisam ter Ordem para se garantir o almejado Progresso. Ora, esse é o miolo ideológico da
corrente filosófica positivista que desde a proclamação da república
encontra-se no símbolo maior do nosso país, que é a bandeira brasileira.
Para os gestores, os alunos são seres desprovidos de
responsabilidades, incompletos, um micro ser sempre voltados para o
futuro e nunca para o presente, portanto, devem estudar e obedecer, mesmo que a
obediência seja cega e o conteúdo alienante. A educação nesse
contexto é uma necessidade imperiosa, caso "queiram ser
alguém na vida".
Os conflitos que existem nas unidades escolares estão
relacionados a falta de canais de expressão e diálogo dos alunos que
tentam de todas as formas se comunicarem com os professores, inspetores e
direção, porém, grande parte destes continuam surdos, cegos e mudos,
mesmo ao som de explosivas bombas, rebeldias generalizadas e outras formas de
chamar atenção. Os educandos sinalizam para o diálogo,porém,
o autoritarismo introjetado em grande parte dos gestores mantenedores da
ordem e da mordaça institucional nada percebem ou fingem que nada
existem, inclusive os avanços democráticos e os alunos.
O caminho é organizar os Grêmios Livres Estudantis,
independente dos professores, diretores e coordenação pedagógica, pois,
trata-se de uma lei federal, n°7.398, de 4 de novembro de 1985 que
afirma: “fica assegurada a organização dos estudantes como entidades autônomas
representativas dos interesses dos estudantes secundaristas”, e “a
escolha dos dirigentes e dos representantes do Grêmio Estudantil serão
realizados pelo voto direto e secreto de cada estudante”.
Essa lei foi uma grande conquista dos estudantes que
com muita união e organização foram a ruas, enfrentaram a ditadura
militar, foram violentados e até morrerem em defesa dos direitos civis e
democráticos.
Com o golpe da ditadura militar em 1964, a
juventude tomou as ruas, enfrentou a barbárie das torturas e não se
curvaram diante do sofrimento e mortes provocadas pelos militares
brasileiros.
Em 1968, a rebeldia mundial ecoou mundo a fora, e no
Brasil, o fatídico ato de brutalidade contra a juventude organizada
calou fundo sobre a sociedade brasileira com a morte do jovem Edson
Luis, que foi assassinado no Rio de Janeiro no dia 28 de março desse ano. Mais
de cem mil estudantes saíram às ruas, resistindo, repudiando e condenando as
prisões, torturas e mortes de trabalhadores e estudantes.
Estudantes exijam seus direitos, mobilizem suas
escolas e bairros, tome partido ao lado dos fracos e oprimidos, vítimas
do regime de morte que é o sistema capitalista. Articule seus
colegas nas classes, realizem reuniões dentro da escola para aprovar o
estatuto e a data da eleição direta para a direção do Grêmio livre Estudantil.
Ao eleger a diretoria do Grêmio, se recuse a fazer o
jogo da direção da escola, com tarefas assistencialistas ou de colaboração com
a direção, pois, caso isso ocorra, você ficará atrelado aos interesses do
Estado, contra os reais interesses daqueles que os elegeram que são os
estudantes.
Caso tenha dificuldades na implementação e
concretude da organização dos estudantes, procure um professor crítico e
coerente que defenda os interesses dos alunos ou procure o Sindicato dos
Professores, ou a União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES), para
garantir na prática e na luta os direitos dos alunos, que quase nunca são
respeitados.
Não se cale e não se renda, reaja a vá à luta em
defesa dos diretos coletivos dos alunos e da classe que vive do trabalho.
Estudante consciente é estudante que luta pelo direito
de todos num combate sem trégua à sociedade capitalista, sinônimo da
desigualdade, corrupção, machismo, racismo, homofobia e da exclusão
humana aos bens produzidos pela classe trabalhadora.
“Organizar a
esperança,
Conduzir a tempestade
Romper os muros da
noite,
Criar sem pedir
licença
Um muro de
liberdade.”
Pedro Tierra - Metal e sonho
Movimento Estudantil Livre já!
Aldo Santos, ex-vereador em
São Bernardo do campo, Coordenador da APEOESP/SBC, Presidente da Associação dos
Professores de Filosofia e Filósofos do Estado de São Paulo, Presidente da
Associação dos Professores de Filosofia e Filósofos do Brasil, membro do PSOL.
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